10 março 2006

insólito instante


Half Minded I - João Figueiredo
para ler ao som de Madredeus

Insólito instante
Perante o vácuo
Que precede a saudade

Despedida contida
Um vago aceno
Na porta da solidão

Trêmulo sorriso
Na face oculta
De um aperto de dor

Me jogo ao mar
De minhas lembranças:
Madredeus em abandono

Na parede do quarto
Ainda ecoa um riso vago
Onda de ternura no meu mar adentro

Concentro a memória
Nas histórias de resgate
E me apego ao cálice de vinho vazio

Na janela a cena acena
Me chama ao imponderável
Fecho a cortina, me deito e choro

Madrugada atenta ao vento
Brisa que vem do sul
Sussurro em vão por uma mão estendida

Os sons da rua
Me encontram nua
Das vestes que me cobrem a alma

Não há procura
Ao entregar-me a ausência
Da essência de teu cheiro no ar

Percorro em sonhos
Desatinos tristonhos
Teu rosto entre nuvens de um avião

Pela manhã o sol
Me encontra opaca
Sem a luz de teu bom dia

Meus olhos perante o brilho
É empecilho para seguir
Quero a ti, quero a todos que deixei partir

22 comentários:

Santa disse...

“Cada um de nós é decerto poeta, à sua maneira, até mesmo sem escrever”

Anônimo disse...

O RELÓGIO

Joaquim Cardoso

Quem é que sobe as escadas Batendo o liso degrau? Marcando o surdo compasso Com sua perna de pau? Quem é que tosse baixinho Na penumbra da ante-sala? Por que resmunga sozinho? Por que não cospe e não fala? Por que dois vermes sombrios Passando na face morta. E o mesmo sopro contínuo Na frincha daquela porta? Da velha parede triste No musgo roçar macio: São horas leves e tenras Nascendo do solo frio. Um punhal feria o espaço... E o alvo sangue a golejar, Deste sangue os meus cabelos Pela vida hão de sangrar. Todos os grilos calaram Só o silêncio assobia; Parece que o tempo passa Com a sua capa vazia. O tempo enfim cristaliza Em dimensão natural; Mas há demônios que arpejam Na aresta do meu cristal. No tempo pulverizado Há cinzas também da morte: Estão serrando no escuro As tábuas da minha sorte.

Anônimo disse...

Caro autor,

Gostei do seu trabalho. Considero que a poesia é necessária, como manifestação expressiva do homem. Não se trata de um ´estado emotivo`, do deslumbre de um pôr-do-sol ou de uma dor-de-cotovelo; é muito mais do que isso, é uma forma de conhecimento intuitivo.

SV disse...

A poesia transcende o estado emotivo e a vivência pessoal. Ela é a alma do mundo que, transformada em palavras inunda o óbvio e converte o pensar em novas idéias.
Poesia multiplica-se dentro de cada um. Ao ler um poema já estamos prontos a gerar um novo, melhor.

Daniel disse...

Não sei se comento a sua poesia ou o seu comentário.
Que linda definição de poesia, rapaz!
POESIA = ARTE
Mas considero a emoção como parte fundamental de uma poesia. Principalmente com o tema da saudade, talvez o sentimento mais humano e ao mesmo tempo mais contraditório de todos. A delícia de sofrer. Bom ou ruim?
Parabéns por mais uma obra de arte!
Daniel.

Rose disse...

Silvio.

Linda poesia, apropriadíssimo comentário,

Beijos

Rose

mais um espaço

http://poemaseamores.blogspot.com/

Anônimo disse...

Silvio
Você é muito bom!!!
Sempre visito seu blog e já indiquei pra amigos.Sempre faz bem ler suas poesias...
E essa música então...não consigo sair do blog...

Anônimo disse...

Não é pra qualquer um fazer poesia!!!
É um dom ser poeta!!!

Anônimo disse...

Poesia é tudo o que o poeta quiser e tudo o que ele mais quer...
É tristeza mascarada
Disfarçada em nostalgia
É alegria escancarada
Que encobre a melancolia..
Poesia é tudo, o bastante,
Poesia... é "insólito instante"!
Beijos

Anônimo disse...

Perdoe-me... tecla indevida e o comentário acima partiu anônimo... beijos outros

Saramar disse...

Sílvio, dizer o que diante de tanta beleza?
Você uniu a dor imensa da perda com a beleza. Pode a dor? ser assim bela? E a música torna ainda mais pundente o poema.
Magnífico!
Essa beleza só se encontra aqui e esse carinho com seu leitores é único.
Obrigada

Beijos e um excelente domingo.

lena disse...

encanta-me o que escreves, os meus olhos brilham e sentem essa brisa que vem do sul

belo!

beijinhos meus, querido amigo


lena

Duda disse...

Parabéns pelo dia da poesia e aos poetas meu respeito.

Santa disse...

Meu querido Sílvio!!!

Quantas poesias construimos no decorrer desta vida!!! Seu post está deslumbrante, mas deslumbrante ainda sua escrita...

Bjs


ps: enviei um mail pra vc

Saramar disse...

Poeta querido.
voltei para lhe dar os parabéns neste dia da poesia porque você é um dos emissários encantados desse presente divino que é fazer poético.

Beijos

mixtu disse...

A saudade... a lembrança...
Excelente poema...
"quero a todos que deixei partir..."
abraços atlânticos

Anônimo disse...

C’est vraiment très beau, tu as l’âme d’un poète, quelle sensibilité.
Amitiés@+

Anônimo disse...

Silvio Vasconcellos, lindo poema este da Saudade e Solidão que ao sentir-se no peito ultrapassa a escuridão. A poesia é um estado de alma e sensação que vem de dentro dependente da ocasião. Parabéns e um abraço.

Blog do Arlan disse...

Obrigado pelas visitas e no post desta semana falo sobre o Boto, nome dado aos golfinhos da região amazônica. Um abraço.

Memória transparente disse...

leu-se bem este "insólito instante" ao som dos "madredeus".

obrigada.

Beijinhos.

Débora Linden Hübner disse...

Sílvio, simplesmente maravilhoso...
Bj

Anônimo disse...

You have an outstanding good and well structured site. I enjoyed browsing through it » »